quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A pluriatenção

Pronto, mudei o nome de uma doença! A partir de agora não existe mais DDA ou TDAH (se os psiquiatras podem inventar nomes, porque não posso...?)

A descrição do Distúrbio de Déficit de Atenção ou o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade acabaram de mudar de nome. Eu determino que passem a se chamar Pluriatenção.

A Pluriatenção não é uma doença. É uma maneira de interagir com o mundo de forma diferente da maioria. E essa maneira as vezes pode afetar o modus vivendi no qual a pessoa se encontra, daí pode ser necessário a ingetão de uma substância que melhora essa interação com o cotidiano. Essa substância normalmente é o Metilfenidato, mais conhecido pelo nome comercial de Ritalina.

E porque esta mudança? Simples: Rótulos. O comportamento humano sempre precisa ser rotulado com um nome bem pejorativo para que as pessoas se sintam mal e tomem remédio para isso. Quero deixar claro que não sou contra medicação. Apenas elas devem ser usadas de forma correta quando há o diagnóstico correto e bem feito, que não pode ser determinado com um olhar ou 15 minutos de conversa, em uma mesa que separe paciente e profissional em apenas uma consulta.

Não há raio-x nem exames clínicos para diagnósticos de condições diferenciadas de cognição. O que existe é o diagnóstico subjetivo do profissional, que infelizmente, atualmente está muito mal preparado para isso. Que sai treinado para rotular em uma classificação baseada em um grupo de comportamentos e atitudes aquilo que é inerente e individual ao paciente

Sou contra a desumanização e a setorização sócio-grupal que esta rotulação provoca. E o maior exemplo disso é a pluriatenção (eu disse que mudou de nome...). Esta característica (e não doença) é uma alteração na maneira de agir e reagir ao mundo. Do caso mais grave ao mais corriqueiro, deve-se levar em consideração para inicio de diagnóstico o momento da humanidade. Vivemos numa enxurrada de informação, onde você não precisa buscar nada. Tudo salta aos olhos, bancas de jornais, todo tipo de mídia, internet, recursos abundantes inundando nossos 5 sentidos. É quase natural que nossa percepção fique difusa, e alguém mais distraído já se sinta perdido. O estudo do comportamento humano não precisa gerar doenças.

Estou pisando num terreno minado aqui, não desconsidero a problemática causada pela pluriatenção, mas há de se perceber em que área da vida do sujeito esta alteração da atenção se mostra e se isso é significativo ou não na realidade individual do ser em questão.

É o que eu defendo, o estudo individualizado de cada caso, e a administração sim, de Ritalina (metilfenidato), nos casos em que a alteração seja significativa na vida do sujeito.

Será que como psicólogo, com quase 10 anos de experiência em consultório, não posso levantar a questão do porquê de criar um "novo medicamento" chamado "CONCERTA" cujo principio ativo é o mesmo da velha Ritalina e a única diferença é a dosagem e a liberação lenta e gradativa ao longo do dia? Ou seja, os dois são metilfenidato, um custa 17,53 reais 10 mg, o outro custa 255,35 até 347, 04 54 mg. Pagar mais de 200 reais pela liberação lenta e uma quantidade maior? Não parece ter algo errado? Será que alguém que precise tomar, que tem a alteração da atenção que prejudica o dia-a-dia, precisa pagar tão mais pela mesma substância? Só tendo a absorção e a quantidade diferentes?

Como um médico pode saber esta diferença se não existem exames clínicos que digam que isso é necessário? Não é completamente subjetivo à interpretação médica e que o paciente, já fragilizado pelo rótulo, recém colado em sua testa, nem vai questionar isso por não ter acesso a uma explicação completa e sincera sobre a realidade das "doenças" mentais? Se um médico conseguisse ser sensível para, perceber os sintomas em relação ao dia-a-dia do paciente (mesmo ele sendo criança); se ele desmistificasse a doençalização das maneiras de ser simplesmente humano e não rotulasse não agrupasse, não definisse como doença (problema) e sim, como uma auto-percepção de sua própria diferença em relação aos outros seres (ninguém é igual a ninguém). Se ele percebesse que cada individuo é único e deve ser tratado como tal. E se trabalhasse com a proposta de mudança de comportamento do próprio paciente perante a atitudes do paciente onde ele possua a alteração, usando técnicas de motivação ou, simplesmente, orientando para que ele perceba as alterações neste ou naquele comportamento, passando assim, a monitorar (ficando mais atento), se, simplesmente, não rotulasse de déficit ou síndrome (termos extremamente pejorativos), o principal objetivo de uma consulta médica: melhorar o estado atual de vida do paciente, não seria tão distorcido:

É uma pena que as faculdades de medicina formem máquinas de categorização de diagnóstico e em suas especializações mentais, rotuladores de doenças inventadas que não são comprovadas. Não se comprova, empiricamente, doenças e afetações mentais como à outras doenças como úlcera, ou diabetes, logo não deveria ter o mesmo tratamento.

Fica a pergunta: -A quem será que interessa humanizar mais o atendimento? A mim interessa e muito. Quero dormir em paz em meu travesseiro...

Se vc se sente rotulado ou se rotula, rompa esse processo. Saiba que são as suas diferenças que tornam você, você.

2 comentários:

Douglas Evangelista disse...

É, cara, realmente, complica. Eu sempre simpatizei por uma medicina mais, digamos, holística, que tratasse o paciente como um todo e não só a "peça" defeituosa. Concordo plenamente contigo no tocante a isso. Mudança de paradigmas, é disso que se trata.

Quanto ao exemplo do medicamento - que eu entendi como um genérico com outra posologia, correto? -, acho que com todos os "poréns" ele envolve, principalmente, a indústria farmacêutica e a maneira criminosa de divulgação de seus produtos junto aos médicos (formadores de opinião), soma-se a isso o poderoso lobby dos laboratórios em todos os setores da saúde, e o que temos é esse panorama de desordem e prostituição da classe médica.

Muito bom texto, cara. Mas, fazendo às vezes do chato, não gostei dos "q" do último parágrafo, achei que deu uma quebrada no tom.

Abraço.

Anônimo disse...

Muito legal, realmente tem a ver com aquele pequeno papo que tivemos aqui em casa.

Mas aí, vou dar um palpite, fundo preto com letra branca cansa e confunde um pouco a vista.

Abraços